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julho 23, 2006

Situação

Um torpor, repentino, alveja-me
enquanto o gosto dos dias gastos
dissolve em minha saliva

Não procura, ele, em mim, o sabor da terra,
mas as raízes fincadas em nuvens de zinco

O rosto é outro a distrair minhas aparências
formas frouxas flutuantes

De repente um medo, esquecido no breu dos
meus vazios, reage e assalta a minha vontade

Sucumbo sem saída

A renegar rumores de outras solidões
na viscosidade em meus poros
{...rasos, largos...}
deixo reservada a vida
pulverizada entre mim e o infinito que lho cerca

No final

Saliento, tão somente, que ainda cabe em mim
temores, dúvidas, riscos
cabe a dor a arder, se for
cabe em mim um dia, um mundo
e só não vinga, só não me cabe o seu amor

julho 12, 2006

Um momento na civilização.

Dias há em que até dá pra ser Civilizados, e hoje é o meu dia. Confira se desejar.

julho 09, 2006

Acorreu-lhe a solitude.

Os olhos doíam-lhe as incertezas dos tempos de antigamente: lembranças. Quando criança aprendeu a se esconder dos amigos, pais, lobisomen, bichos-papão. E fazia isso até hoje, velho já, ar carcomido já e para sempre. A vida poderia ter sido mais fácil se quisesse. A coluna trincava a cada movimento, mas procurou levantar-se. Aquela luz estava cegando o pouco da visão que ainda restava, precisava fechar as cortinas. Tinha agora sala, 3 quartos, cozinha, 3 banheiros, quintal com pomar e dois cachorros só para ele. O silêncio dos dias zumbia zumbindo em seus tímpanos cansados. Desde que a família partira vive assim: um pouco de leitura das bulas das medicinas, comida sempre fria e solidão com água para descer macia. Anda apoiado nas cadeiras, mesas, pilastras, paredes e costuma estar pelos cantos da casa grande demais, perdido entre a poeira e as teias de aranha, num eterno esconde-esconde. Até que toda quinta a diarista aparece, varre todos os cômodos e retira-o do sossego jogando-o em baixo do chuveiro: Hoje é dia de banho, velho imundo! A água regelada escorre-lhe pelas dobras levando-lhe o resto da dúvida sobre o fim dos dias e numa reza miúda ele clama a Deus pelo dia da sua própria partida.