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novembro 03, 2005

Vento I

O que sei é que dói. Encontro solução, não. Despenquei cedo da cama e passei metade do dia relutando contra uma verificação quase insofismável: estava sendo traído. Por muitos motivos periguei em acreditar, o mais forte e irremediável: estava apaixonado. Ela era o mundo, em poucas palavras, o mundo. O mundo de outras formas e que eu achava conhecer até mesmo pelo avesso ou na escuridão. Estava cego, desfeito de minha capacidade precípua de enxergar, via-a, sim, e com intensidade, mas não a compreendia, não a enxergava. O desapego é a pior medida da qual devo agora fazer uso. Dor maior, existe? Já não sei. Parei agora de pensar muito no que tudo isso poderia significar, para minha vida inclusive. Destinei-lhe muito. Noites. Dias. Desejos. Planos. E acabei, assim, ludibriado. Parado aqui em cima, sinto o vento deslizar por entre as falanges, cortar meus medos, eu mesmo estou cortado, talvez a única forma agora de voltar à minha unidade seja o mergulho no infinito. Seja como for, todo homem é feito de cacos. Lá em baixo encontrarei meus pedaços naquele jardim.

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