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novembro 27, 2005

Soon on-line

O fenômeno Orkut, para o qual muitos torciam (e torcem) os narizes, acabou servindo como musa para outras propostas de criação e arregimento de uma rede de relacionamento no universo virtual. Depois da cópia melhorada do Uol, com seu Uolkut, uma nova fase destas teias virtuais de pessoas esta prestes a ficar on-line. Trata-se do Portal do Leitor, uma comunidade internética que vai interligar leitores, escritores, editores e livrarias, todos do universo do livro, para trocarem experiências, fazerem contato, venderem livros e circular a informação.

É só fazer o cadastro aqui para participar. Esta é uma excelente iniciativa para aumentar o interesse por livros e aumentar a própria cultura livresca no Brasil. O futuro há de revelar.

novembro 26, 2005

Simples:

Uma dose de cólera, por favor.

novembro 22, 2005

Mel-o-diosas

A Delana Valiños Gonzalez
De repente um sopro. Um sopro forte e acariciador que adentrou rápido e agitou seus cabelos. Arranhou-lhe a pele sã e com a mesma intensidade com que entrara, arremessou a porta na soleira. Um estrondo só, que só por um instante tomou conta dos seus ouvidos. Zum-zum-zum de vespa. Tummmm... e por um outro instante, rápido como um flash, o som do silêncio. Até que novamente, a agulha voltou a deslizar entre os sulcos enegrecidos do vinil: ritmo.

Do estéreo, as melodias formosas, coloridas de toda a sorte, invadiram sua alma, matizes multiformes que se misturavam ao sabor do contentamento, trazendo algo de reluzente à matéria, preenchendo, sem barreira ou qualquer outro meio de arrependimento, os desvãos. A vida assim parecia-lhe mais completa. Os ouvidos da alma não olvidavam os sons do universo, eterno tic-tac explosivo-criativo até às últimas conseqüências. Jazz descansava o corpo e floreava o espírito, aqui tudo renovava-lhe de sopro vital. Era primavera. Da janela o sopro era outro e vinha carregando os mesmos sabores perfumados de cores e alegrias. Sorvia-os inexaustivamente e com sofreguidão. Pequenas criaturinhas cheias de brilho tomavam-lhe o ambiente numa invasão sem resistências. Vinham e traziam, da beleza, os melhores contornos, distribuídos no bater das pequeninas, mas poderosas, asas. De repente tudo transfigurava-se e o aquecido das revelações, o delicado da existência, dominava-lhe, assaltando-lhe os sentidos. Já nem sentia os pés no chão, como uma flor que precisa do milagre do brotar para distribuir brilhos infinitos, precisava do arfar das emoções para descobrir-se, derreter o coração e manter-se fora do que insistiam em chamar de mundo. O seu era outro e apregoou nele outro nome, deu-lhe outra atribuição: era onde refugiava-se quando o lado mais escuro das constelações precipitava-se em privações. O imenso blues incutia-lhe a necessidade de cortar o anil com seus sonhos e permitir imiscuir-se em suas moléculas. Eterno oxigênio entre suas falanges agraciava sua pele. Para a alma o alimento: musica. Tintas infinitas: metamorfose. Verde do mar, branco do ar, amarelo do amar. Versos estendidos, alexandrinos, desbravadores. Era primavera e o sentido de beleza resvalava por todos os jardins: tulipas, rosas, orquídeas. Tantas cores, tantos sentidos. Como o jazz, as borboletas vieram mostrar-lhe o caminho, e os contornos que desenhavam no ar erguiam ruas, florestas, montanhas, corações, paladares outros, outras vozes que bailavam com as melodias do estéreo, suaves como o conteúdo do cálice que sorvia, sutis como os dedos da criação, sopro de possibilidades, outras sendas. As flores não estavam a sós, apenas ela, porém, não estava blue.

As paredes escancaradas da percepção eram um convite à imensidão. Fechara os olhos, já não se pertencia e mesmo assim viu a aspereza dos dias evaporar-se e perder-se no espaço oco entre a dor de ser e a beleza de existir. O mundo novo era sua criação prima, obra prima. A suavidade primaveril que primeiro chegou em sua alma, baniu os temores e soprou fundo o jazz e transportou-a, flor do próprio jardim, brilho do universo.

Entre uma música e outra, escutou, melodiosas: algo a chamava. Precisava partir.

novembro 20, 2005

Círculo de Leituras

Uma experiência excelente, para leitores habituais ou não. Algumas pessoas reunidas na forma geométrica denunciada pelo título e um texto, um autor. Primeiro a leitura pelo leitor-guia e subseqüentes leituras, interpretações e re-interpretações pelos outros leitores. Comentários e práticas particulares sãocompartilhados. Em geral, o guia é alguém com mais vivências com o texto colocado à baila e com seu autor, mas no fundo estão todos na mesma embarcação: a imaginação. Penso em fazer com amigos que cultivem também o amor pela leitura, pela ficção. Minha primeira participação foi há algumas semanas durante a Jornada Literária promovida pelo SESC-Ba e trago saudades daqueles encontros. Um prazer.


novembro 13, 2005

Penso:

Que desespero este de passar uma inteira vida fingindo ser feliz.

novembro 07, 2005

Infinito

À Victor Uchôa

Pétalas estreladas caem do firmamento. Despencam como se a tudo, destruir, quisessem. Os pontos luminosos são como flores, principiei, como um campo florido e infinito, completei. No tapete enegrecido nós queríamos mesmo era voar, alcançar a infinitude múltipla das constelações, até as menos iluminadas ou ainda as obliteradas. As estrelas são como as pessoas especiais deste mundo torto, adiantei esperando já, por gostar de ler a interrogação contornando sua testa obnubilando seus olhos e emudecendo seus lábios, você perguntar: Como?!. Sim, iniciei o explicar, mesmo as estrelas que já se apagaram há milhões de anos continuam a clarear o imenso universo, o negrume misterioso, e se vivas estão são guias do caminho, o brilho mais intenso, como algumas pessoas destes solos. Então você assentiu com um cálido olhar, já refeito do questionar. E prossegui As pessoas mais especiais são, também, assim, por mais distantes que estejam, ou ainda que não presentes, alumiam nossa vastidão interior e a adornam os nossos campos mais recônditos, preenchem de contentamento e quando próximas estão são como uma energia a fazer-nos, também, raiar.

Obrigado por ser, ao longo destes meses, minha mais valiosa constelação.

FELIZ ANIVERSÁRIO!

novembro 06, 2005

Corte

Afasta-te de mim,
à parte

Serei percalço,
sempre,
da infinitude

Deslumbre da morte,
em mim,

Sacra

novembro 03, 2005

Vento I

O que sei é que dói. Encontro solução, não. Despenquei cedo da cama e passei metade do dia relutando contra uma verificação quase insofismável: estava sendo traído. Por muitos motivos periguei em acreditar, o mais forte e irremediável: estava apaixonado. Ela era o mundo, em poucas palavras, o mundo. O mundo de outras formas e que eu achava conhecer até mesmo pelo avesso ou na escuridão. Estava cego, desfeito de minha capacidade precípua de enxergar, via-a, sim, e com intensidade, mas não a compreendia, não a enxergava. O desapego é a pior medida da qual devo agora fazer uso. Dor maior, existe? Já não sei. Parei agora de pensar muito no que tudo isso poderia significar, para minha vida inclusive. Destinei-lhe muito. Noites. Dias. Desejos. Planos. E acabei, assim, ludibriado. Parado aqui em cima, sinto o vento deslizar por entre as falanges, cortar meus medos, eu mesmo estou cortado, talvez a única forma agora de voltar à minha unidade seja o mergulho no infinito. Seja como for, todo homem é feito de cacos. Lá em baixo encontrarei meus pedaços naquele jardim.

novembro 02, 2005

Vento II

Vedado de sentir, adormecera junto às folhagens do jardim e ali permanecera, inamovível, por todo reinado lunar. Até que o manto estrelado desfez-se e o principiar da evaporação do orvalho fé-lo despertar.

novembro 01, 2005

Abr´olhos


Sentiu o desconcerto avolumar-se e travar-lhe a garganta. Lentamente. Menos dor que angústia, o mal-estar era aviltante: o cego quedara e encarava-o com fixidez. No desconforto nem tinha como fugir, o trem lotado detinha-o. E o cego olhava mesmo para ele, deitava-lhe o vazio claustrofóbico das íris opacas como se soubesse: por trás do coração pedregoso, encerrava-se a dor do mundo, solidão.