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dezembro 09, 2005

Encanta os olhos, destroi o coração.

De longe avistaram as chamas. Não era, mas parecia São João. Tão brilhante, vovó pensara ser um balão: - Só que balão voa vovó e aquelas chamas vêm do chão, contestou o menino, com espertidão maior. Não era balão, não. Tão intenso, tudo aquilo. De longe não dava para se notar muitas coisas, os detalhes dos detalhes, só viam que o amarelo quente agigantava-se em seu frêmito sem compaixão. Fogo é fogo e queima e alumia o breu. As pessoas em volta pareciam celebrar. Celebração confusa: alguns corriam, outros chegavam e no meio de tudo os gritos. Estes vinham na velocidade do vento, que não era nem tão forte assim. Com o tempo pareceu que alguém fazia churrasco. Àquela hora da noite?! O odor de carne torrada: - Vai aprender a churrasquear!, gritou o menino seguro à mão da avó. Os gritos não eram estranhos. Eu hein? Parecia agonia. A vovó ficou maravilhada: - Nunca vi fogueira tão grande. Demorou, o espetáculo, precisou mesmo de bombeiro para por fim nas labaredas. E não era São João, mesmo não. Na verdade estávamos perto, bem pertinho do natal: havia bolas coloridas, pinheiros verdinhos e adornados, flocos de gelo artificial e mensagens de felicidades. Foi com o levantar do sol que vieram as más notícias. Um carro de viagem. Incendiado em meio a uma avenida movimentada por pessoas civilizadas. Parecia pesadelo. Foi um espetáculo de horror: pessoas assadas ainda vivas. Ritual macabro. No dia seguinte a vovó estarrecida com os fatos passou as horas a lamentar: - E eu que tanto me deslumbrei...

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