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maio 17, 2006

E n t r e c o r p o


Um corpo corta a infinitude horizontal da minha quimera
E vasto, sacia a voracidade do meu desejo
Um corpo se enovela em mim se alimenta em mim
Arfa e me sufoca

Um corpo solto perambula por meus desertos
E minhas ruas em carne-viva

Se me ilumina em tardes de outono e cai

Um corpo violento me atropela
E translúcido em desesperos,
Na contra-mão das noites azuis, se revela

Um corpo outro me entremeia
Ecoa forte e saliente em meu desvão
Buscando a vontade frouxa
Lassidão

Enquanto {irremediavelmente} devagar
Escorro por entre seus dentes
E desapareço.



10 comentários:

Anônimo disse...

ivã, vezenquando passo por aqui. leio, releio... assim, entre assustado e encantado, sabe como não sabe? acho tudo sempre tão bom!! acabo indo embora sem deixar rastros, pegadas ou bilhetes. hoje, renuncio à esta condição de mutismo. gosto mesmo muito daqui. 1 grande abraço, velho.

Anônimo disse...

"...E o escuro se umedeça em nosso corpo." (Manoel de Barros)
um beijo moço

Claudio Eugenio Luz disse...

Rapaz, a verve está cada vez mais apurada.

hábraços

Marina disse...

Desapareça... mas, não se perca... :)

Bjus.

Leandro Jardim disse...

Ah, o desejo!
Ah, as palvras-beijo!
Os silêncios escandalosos
e os sumiços-presentes!

muito bom tudo isso!

alice disse...

cara ivã,

estava postando quando recebi o seu maravilhoso comentário e não poderia deixar de vir aqui visitá-la e agradecer-lhe por suas belas palavras, sobretudo pela fabulosa oportunidade de ficar conhecendo sua poesia divina

bem haja pela sua generosidade em vir comentar uma menininha

um grande beijinho,

alice

Nirton Venancio disse...

Ivâ,
fiquei comovido com o que você escreveu na minha página. Tô aqui sem palavras, meu caro...

Anônimo disse...

Sonho e satisfação do desejo nunca caminham de mãos entrelaçadas e dedos tocando-rasgando carne. O sonho/desejo é barroco, hiperbólico. A satisfação do desejo é crueza, é carne rompendo carne, lambendo carne, solvendo carne, entre dedos, língua, sexo, suor, toque, gozo. O desejo satisfeito te leva ao sono, o sonho/desejo se faz entre os olhos fechados ou abertos no palco etéreo do mundo das idéias.
Ivã, sensualíssimo o seu poema... Sensorial... Sensorial... Meus sentidos estão todos aqui.
Beijos,
abraço forte,
Jana

P.S: Agradeço pela visita, atenção e carinho que deixou no Noturnando. Minha morada estará sempre aberta à sua visita e às suas palavras. Passe no Brutti, quando puder. Escrevo lá aos domingos. O texto que postei ontem se chama "Obs(cena)".

Endereço: http://naselva.com/brutti

Beijos, querido.

Anônimo disse...

, um corpo que se alimenta em outro, até ver este outro escorrendo por entre dentes.
antropofágico!
|abraços meus|

alice disse...

boa tarde,

deixo-lhe um pensamento:

quando ali me sentava
os anzóis prendiam as sombras da tarde a ganir com o cio
se a água do rio ao menos vazasse a prata sem dor
ou os meus pés fossem canas de pescar sapatos
mas ali sentada diante do nada
era lume brando a cozer traições
e a agonia dos peixes na berma da água
era o fim dos teus olhos a acabar a tarde
se ao menos os barcos passassem de véspera pelas ilusões
ou as redes vazassem sonhos menos fáceis
mas ali sentada com a alma trocada
pescava o diabo e as tentações
ainda que eu cruzasse a solidão entre as pernas
o cio esganava o brilho da prata caído no chão
mesmo que os anzóis mordessem a margem
nunca a rota dos barcos me corrigia a alma
e ali sentada de pernas cruzadas
não tinha calçado nem canas de pesca para a solidão

um grande beijinho,

alice