dezembro 18, 2005
Eco
E recobre cabeças
E devasta o tempo
Que entorna vagas, poucas
Que levam, da areia, as pegadas
E trazem o vento que tudo apaga
É do mundo a voz que sai
Rouca mas vasta, onde não se cabe
A cor da pedra, resgate
Num sopro profundo e oco
Sempre em seu quilate
Não se ouve e nem se quer ouvir
O som da luz trespassa, assim
A voz é do mundo e não se esvai
Na vida caudalosa
Sobrepõe e, solta, grassa
Por toda terra, em terras outras
Feito animal em disparada
Feito filho, tornado pai
Do mundo é a voz que lamenta
Recrudescida, ecoa voraz
No deslugar do coração, uma tormenta
A voz que sobe, desdobra, do mundo, desaba
Um diz:
Um dissabor,
A voz do mundo é a voz da dor.
dezembro 15, 2005
Parte
O amor para além, pára
Um vento áspero na contramão à mordaça
Não senti o mel das palavras, nãos
Atadas sem preceitos incontroversos, mãos
Dois ventos frios das orelhas à cabeleira
Precisava ser assim ou ser assado assaz interpelado:
- Não há vida além das estrelas?!
- Não, há!
- E o que me dizem os sussurros que me deixam à metade?
- Não sei se devo, vejo tantas sobras no fundo dos seus olhares
- Sempre comi as migalhas, como se prato principal fosse.
É a morte não acreditar, é a morte
Se depois, ao menos, viessem os sabores do futuro
Mas só este gosto de morango mofado no paladar das horas.
- Se perco tempo, é porque trago nele os melhores momentos e me perco sempre em você, sempre que acho que vale a pena
- Os pedacinhos são sempre invisíveis e loucos, não sei não, mas não sinto o mel das palavras, nao mais
- Então, amor, até nunca.
dezembro 11, 2005
Relato
dezembro 09, 2005
Sorte de lembrar
Alguém trouxe rosas, talvez mamãe, mas não a vejo por aqui. Meu pai deveria trazer as tulipas e os pássaros os galhos quebradinhos e toda sorte de material de construção para soerguerem, aqui perto, seus ninhos, seus cantos ao menos ainda apetecem-me. Mas vejo apenas desconhecidos. Todos eles.
Ao menos agora dormirei infinitamente o sono dos ludibriados. Sim, ludibriado pela vida. Enganei-me o quanto pude, e pude muito pouco. Tive fé enquanto animal domesticado, só que não demorei por cair em contradição e descontento.
Um dia notei que as raízes cresciam por baixo da minha residência. A casa estava cada dia mais vulnerável. Até que as paredes começaram a cair: primeiro descascou a pintura e em seguida caiu o reboco. Tudo numa rapidez impensável. Não me assombrei. Neste tempo eu já era mais zumbi que gente. E as palmeiras baloiçavam atentas aos ventos mais complexos daquela estação. Por fim o telhado despencou sobre a cama no momento em que dormia. Por isso não mais acordei. Não tive nem tempo de sonhar. Isso por toda uma vida. Não se assuste comigo.
Agora não estou mais desabrigado. E tenho até estranhos chorando por mim. Não tenho as flores todas que requeri e trago a alma vazia. Difícil é não compreender: nesta vida eu morri foi de fome.
Diário dos sentidos
17 de agosto de 1945
Com o tempo fui aprendendo que se entregar é o mesmo que ir sutilmente se perdendo, ou não. As fotografias amarelecem nas paredes. Todas elas perdidas em mim, em algum lugar no córtex. As unhas crescem, os cabelos caem, e sono já nem tenho. Os dias avançam sobre as noites e vice-versa. Não cresci num mundo de fantasia. Minha mãe sempre dizia: as coisas têm de melhorar. No entanto, as horas foram passando, os pães apodreceram e não quis comer os fungos que por ali se acumularam, de uma hora para outra, eles não aplacariam a fome que percorria minha solidão. Comer o tempo significa mais que o espremer para tirar dele os segundos perdidos. Sinto-o dentro de mim. E à medida que sinto o vento invadir as janelas encerradas e depositar sobre minhas orelhas as areias desérticas do passado, parece que nada fui nestas terras: nem serpente nem maçã nem ramagem nem parasita nem vencedora nem vencedora. Construí meu universo uno demais. E senti prazer. Quase o mesmo prazer que escorria por minhas falanges escuras, por meus pêlos crespos: ai sim perdia, eu, o sentido de tudo. Até notar a viscosidade sanguínea enrubescer minhas extremidades. Esquecia-me entre os lençóis e os ácaros, toda a noite. Sempre a esperá-lo. Até que certa feita, após jantar as baratas, acordo e vejo os vultos percorrendo os cantos úmidos da casa. Chovia lá fora e toda sorte de goteira ousara precipitar-se por sobre o carpete, os livros, o sofá e a televisão. E as imagens agora percorriam as minhas entranhas, também úmidas, mas ardentes de paixão.
Encanta os olhos, destroi o coração.

dezembro 01, 2005
novembro 27, 2005
Soon on-line
É só fazer o cadastro aqui para participar. Esta é uma excelente iniciativa para aumentar o interesse por livros e aumentar a própria cultura livresca no Brasil. O futuro há de revelar.
novembro 26, 2005
novembro 22, 2005
Mel-o-diosas

Do estéreo, as melodias formosas, coloridas de toda a sorte, invadiram sua alma, matizes multiformes que se misturavam ao sabor do contentamento, trazendo algo de reluzente à matéria, preenchendo, sem barreira ou qualquer outro meio de arrependimento, os desvãos. A vida assim parecia-lhe mais completa. Os ouvidos da alma não olvidavam os sons do universo, eterno tic-tac explosivo-criativo até às últimas conseqüências. Jazz descansava o corpo e floreava o espírito, aqui tudo renovava-lhe de sopro vital. Era primavera. Da janela o sopro era outro e vinha carregando os mesmos sabores perfumados de cores e alegrias. Sorvia-os inexaustivamente e com sofreguidão. Pequenas criaturinhas cheias de brilho tomavam-lhe o ambiente numa invasão sem resistências. Vinham e traziam, da beleza, os melhores contornos, distribuídos no bater das pequeninas, mas poderosas, asas. De repente tudo transfigurava-se e o aquecido das revelações, o delicado da existência, dominava-lhe, assaltando-lhe os sentidos. Já nem sentia os pés no chão, como uma flor que precisa do milagre do brotar para distribuir brilhos infinitos, precisava do arfar das emoções para descobrir-se, derreter o coração e manter-se fora do que insistiam em chamar de mundo. O seu era outro e apregoou nele outro nome, deu-lhe outra atribuição: era onde refugiava-se quando o lado mais escuro das constelações precipitava-se em privações. O imenso blues incutia-lhe a necessidade de cortar o anil com seus sonhos e permitir imiscuir-se em suas moléculas. Eterno oxigênio entre suas falanges agraciava sua pele. Para a alma o alimento: musica. Tintas infinitas: metamorfose. Verde do mar, branco do ar, amarelo do amar. Versos estendidos, alexandrinos, desbravadores. Era primavera e o sentido de beleza resvalava por todos os jardins: tulipas, rosas, orquídeas. Tantas cores, tantos sentidos. Como o jazz, as borboletas vieram mostrar-lhe o caminho, e os contornos que desenhavam no ar erguiam ruas, florestas, montanhas, corações, paladares outros, outras vozes que bailavam com as melodias do estéreo, suaves como o conteúdo do cálice que sorvia, sutis como os dedos da criação, sopro de possibilidades, outras sendas. As flores não estavam a sós, apenas ela, porém, não estava blue.
As paredes escancaradas da percepção eram um convite à imensidão. Fechara os olhos, já não se pertencia e mesmo assim viu a aspereza dos dias evaporar-se e perder-se no espaço oco entre a dor de ser e a beleza de existir. O mundo novo era sua criação prima, obra prima. A suavidade primaveril que primeiro chegou em sua alma, baniu os temores e soprou fundo o jazz e transportou-a, flor do próprio jardim, brilho do universo.
Entre uma música e outra, escutou, melodiosas: algo a chamava. Precisava partir.
novembro 20, 2005
Círculo de Leituras
novembro 13, 2005
novembro 07, 2005
Infinito
Pétalas estreladas caem do firmamento. Despencam como se a tudo, destruir, quisessem. Os pontos luminosos são como flores, principiei, como um campo florido e infinito, completei. No tapete enegrecido nós queríamos mesmo era voar, alcançar a infinitude múltipla das constelações, até as menos iluminadas ou ainda as obliteradas. As estrelas são como as pessoas especiais deste mundo torto, adiantei esperando já, por gostar de ler a interrogação contornando sua testa obnubilando seus olhos e emudecendo seus lábios, você perguntar: Como?!. Sim, iniciei o explicar, mesmo as estrelas que já se apagaram há milhões de anos continuam a clarear o imenso universo, o negrume misterioso, e se vivas estão são guias do caminho, o brilho mais intenso, como algumas pessoas destes solos. Então você assentiu com um cálido olhar, já refeito do questionar. E prossegui As pessoas mais especiais são, também, assim, por mais distantes que estejam, ou ainda que não presentes, alumiam nossa vastidão interior e a adornam os nossos campos mais recônditos, preenchem de contentamento e quando próximas estão são como uma energia a fazer-nos, também, raiar.
Obrigado por ser, ao longo destes meses, minha mais valiosa constelação.
FELIZ ANIVERSÁRIO!
novembro 06, 2005
novembro 03, 2005
Vento I

novembro 02, 2005
Vento II
novembro 01, 2005
Abr´olhos

Sentiu o desconcerto avolumar-se e travar-lhe a garganta. Lentamente. Menos dor que angústia, o mal-estar era aviltante: o cego quedara e encarava-o com fixidez. No desconforto nem tinha como fugir, o trem lotado detinha-o. E o cego olhava mesmo para ele, deitava-lhe o vazio claustrofóbico das íris opacas como se soubesse: por trás do coração pedregoso, encerrava-se a dor do mundo, solidão.
outubro 22, 2005
Acontece em Salvador
Promoção de reflexões e discussões sobre a relação da Literatura com outras linguagens culturais, congregando produtores, consumidores e apreciadores do tema. Programação: Conferência, Mesas-redondas, Minicursos, Oficinas, Círculos de Leitores, Sessões de Cinema Comentado, Bate-papos com os escritores e Saraus poéticos: Sessões de Contação de "causos" e histórias etc. Local: Casa do Comércio. Informações: 3254.3916.
PROGRAMAÇÃO
CONFERÊNCIA DE ABERTURA
Dia 24.out - 18h30 "A Necessidade da Leitura"Conferencista: Antônio Torres (RJ)Coordenação: Maria das Graças Meirelles - UFBAWellcome-coffee e recepção musical com Ivana Ribeiro e Berg Campos
MESAS- REDONDAS - 14h às 16h
Dia 25.out "O Prazer de Ler" Participantes: Antônio Torres (RJ), Maria Afonsina Matos - UESB e Eliana Mara Chiossi - UFBA. Coordenação: Suzane Lima - UFBA
Dia 26.out"Literatura e Diversidade Cultural"Participantes: Rubens Pereira - UEFS, Doralice Alcoforado - UFBA e Osmar Moreira - UNEB. Coordenação: Maria das Graças Meirelles - UFBA
Dia 27.out"Questões Marginais na Literatura"Participantes: Florentina Souza - UFBA, Eneida Souza (MG) e Rachel Esteves - UFBA. Coordenação: Maria das Graças Meirelles - UFBA
Dia 28.out"Literatura e Outras Linguagens"Participantes: Linda Rubim - UFBA, Paulo Dourado - UFBA e Igor Rossoni - UFBA. Coordenação: Suzane Lima - UFBA
MINICURSOS - 8h30 às 12h30
Dias 25 e 26.out"Nos Tapetes da História: vozes, palavras e textos infanto-juvenis" - Maria Afonsina Matos - UESB"Literatura na Formação do Leitor" - Antônio Torres (RJ)"Literatura e Música" - Igor Rossoni - UFBA
Dias 27 e 28.out"Saber e Cultura na Pós-modernidade" - Eneida Souza (MG)"A Literatura Oral/Popular e Identidade Regional" - Doralice Alcoforado - UFBA"O Contador de Histórias e suas Ferramentas - A arte de ler e contar" - José Mauro Brant (RJ)
OFICINAS - 14h às 17h15
Dia 25.out"Textos Culturais na Prática Pedagógica" - Maria das Graças Meirelles - UFBA"Iniciação à Literatura através do Teatro" - André Rosa e Juliana Ferrari
Dia 26.out"Pela Estrada a Fora: poesia, lendas, contos e encantamentos..." - Maria Afonsina Matos - UESB"Teatro - Interpretação de Textos" - Ramon Reverendo - SESC
Dia 27.out"Literatura de Cordel" - Jotacê (BA)"O Texto na Vida e a Vida no Texto" - Suzane Lima - UFBA
Dia 28.out"Literatura e Oralidade" - José Mauro Brant (RJ)"Ensinar Poesia? Por que?" - Gustavo Felicíssimo
CINEMA COMENTADO - às 10h15
Dias 25 e 26.out"O Baile Perfumado" e "Vidas Secas" - Abel Bittencourt - UFBA
Dias 27 e 28.out"Triste Fim de Policarpo Quaresma" e "Narradores de Javé" - Cláudio Novaes - UEFS
BATE-PAPO COM ESCRITORESDe 25 a 27.out - 16h15
Participações: Gustavo Felicíssimo, Jotacê, Gutemberg Jesus, Sérgio Silva e Cláudio Novaes.
CIRCULO DE LEITORES - 8h30 às 10h
De 25 a 28.outLeitoras-guias: Pensilvânia Guerra e Maria Helena Besnosik
ENTARDECER LITERÁRIO - 17h30
Dia 25 - Drummond: biografia, leitura de poesias e recital (com alunos de Teatro do SESC sob a direção de Ramon Reverendo)
Dia 26 - E Viva o Cordel (com Gutemberg Jesus, Sérgio Silva, Leandro Tranquilino e Paraíba da Viola. Coordenação: Jotacê)
Dia 27 - Contação de Causos (?Seu Fal?. Música de Fernando Ribeiro. Coordenação: Maria das Grças Meirelles)
Dia 28 - Que História é Essa? (Pinduka e Zoé Vornicov. Participação especial do músico Leonardo Reis. Coordenação: José Mauro Brant)
INTERVENÇÕES CULTURAIS - 17h30
De 25 a 28.outAlunos dos cursos de Dança, Teatro, Teatro de Animação e Música do SESC. Direção: Dança - Tânia Bispo e Lêda Maria Ornelas. Teatro - Ramon Reverendo. Teatro de Animação - Gilberto Texeira.
OFICINAS - 14h às 17h15
Dia 25.out"Textos Culturais na Prática Pedagógica" - Maria das Graças Meirelles - UFBA"Iniciação à Literatura através do Teatro" - André Rosa e Juliana Ferrari
Dia 26.out"Pela Estrada a Fora: poesia, lendas, contos e encantamentos..." - Maria Afonsina Matos - UESB"Teatro - Interpretação de Textos" - Ramon Reverendo - SESC
Dia 27.out"Literatura de Cordel" - Jotacê (BA)"O Texto na Vida e a Vida no Texto" - Suzane Lima - UFBA
Dia 28.out"Literatura e Oralidade" - José Mauro Brant (RJ)"Ensinar Poesia? Por que?" - Gustavo Felicíssimo
CINEMA COMENTADO - às 10h15
Dias 25 e 26.out"O Baile Perfumado" e "Vidas Secas" - Abel Bittencourt - UFBA
Dias 27 e 28.out"Triste Fim de Policarpo Quaresma" e "Narradores de Javé" - Cláudio Novaes - UEFS
BATE-PAPO COM ESCRITORES
De 25 a 27.out - 16h15Participações: Gustavo Felicíssimo, Jotacê, Gutemberg Jesus, Sérgio Silva e Cláudio Novaes.
CIRCULO DE LEITORES - 8h30 às 10hDe 25 a 28.out
Leitoras-guias: Pensilvânia Guerra e Maria Helena Besnosik
ENTARDECER LITERÁRIO - 17h30
Dia 25 - Drummond: biografia, leitura de poesias e recital (com alunos de Teatro do SESC sob a direção de Ramon Reverendo)
Dia 26 - E Viva o Cordel (com Gutemberg Jesus, Sérgio Silva, Leandro Tranquilino e Paraíba da Viola. Coordenação: Jotacê)
Dia 27 - Contação de Causos (?Seu Fal?. Música de Fernando Ribeiro. Coordenação: Maria das Grças Meirelles)
Dia 28 - Que História é Essa? (Pinduka e Zoé Vornicov. Participação especial do músico Leonardo Reis. Coordenação: José Mauro Brant)
INTERVENÇÕES CULTURAIS - 17h30
De 25 a 28.outAlunos dos cursos de Dança, Teatro, Teatro de Animação e Música do SESC. Direção: Dança - Tânia Bispo e Lêda Maria Ornelas. Teatro - Ramon Reverendo. Teatro de Animação - Gilberto Texeira.
Música - Fernando Ribeiro. E mais: Henrique Duarte e Leonardo Reis.
SESC NAZARÉ
De 24 a 28/10, das 8h30 às 19h.
Inscrições:R$35,00 - inclui participação em conferência, mesas-redondas, sessões de cinema comentado, círculos de leitores, entardecer literário e intervenções culturais, além de certificado com 70% de presença.Minicurso: R$20,00 - com certificado. Oficina: R$10,00 - com certificado.Formas de pagamento: à vista ou parcelado em até 6 x no cartão (Redecard, Hipercard, Mastercard e Dinners Club International, para inscrições efetuadas até o dia 21/10/05).